Às vezes sinto-me um tipo pré-histórico. Por exemplo, de manhã quando estou a ouvir a Antena 3 (um péché-mignon que herdei dos tempos em que era alegre e jovem) e às 10h00 da manhã faço aquele exercício/jogo do 'descubra as diferenças' em relação ao noticiário das 09h00 que, por acaso, também calhou ouvir. Serei o único bicho raro a não conseguir discernir uma vírgula de variação entre um bloco e outro? Até aquele irritante "fulano tal aos comandos" repetido exactamente no mesmo tom desde 1997?!
Mas antes que me caiam em cima deixem-me fazer a ressalva: não é apenas ali naquele órgão de comunicação social que, diga-se de passagem, embora destinado à cambada mais jovem que por inerência não pensa (deverá ser essa a filosofia subjacente ao teor do referido jornal) é pertença e responsabilidade do Estado, logo deveria brindar-nos com o já proverbial e desaparecido em parte incerta serviço público (mas talvez a ideia seja mesmo essa: somos todos muito burros e precisamos que as noticiazinhas nos sejam servidas várias vezes e usando precisamente as mesmas palavras porque óssenão a malta não percebe e ópois chumba no 7º, 8º e 9º ano e a Milu vê ir por água abaixo as suas magníficas taxas de sucesso escolar - é isso!). Não, não é só na Antena 3 que o ouvinte é brindado com o bloco noticioso em versão playlist até cair de enjôo. Também a SIC Notícias e a RTP N (a TVI não consumo por isso não me pronuncio) são adeptas da clonagem informativa. O repórter dirige-se ao local do acontecimento (quando se dirige, mas este assunto ficará para outra posta). Recolhe som, imagem e, quiçá, se o precioso tempo o permitir e valores mais altos não se levantarem, alguns dados relevantes. Regressa à redacção o mais depressa possível e em todo o caso antes de se transformar numa abóbora. Monta uma única peça com o material de que dispõe. Uma só, uminha, que será passada no próprio dia no canal-mãe e no canal de notícias até que os seus mais fieis espectadores - mesmo os surdos - sejam capazes de a reproduzir vogal por vogal e consoante por consoante. E no dia seguinte, com um pouco de sorte, ainda temos direito à repetição da dita mas sem ser requentada - isso gastaria recursos preciosos à estação -, que é como quem diz: se a peça dizia "hoje" continua a ser "hoje" embora qualquer criança de quatro anos entenda que "hoje" passou a ser "ontem", mas, then, again, isso não interessa nada, não é? E se até os putos percebem, os adultos não precisam que lhes expliquem.
Devo ser um tipo mesmo pré-histórico mas quando (no tempo das cavernas) estudei jornalismo radiofónico o ancião que me dava formação e que só por acaso era uma referência no ensino deste meio em Portugal costumava dizer: "Peça editada é peça arquivada". Mas provavelmente é por eu ter estes conceitos ultrapassados que eles têm emprego, 13º e 14º mês e eu devo quase três anos de contribuições à segurança social (e ponho maiúsculas se me apetecer, nhanhanhanhanha).
Mas antes que me caiam em cima deixem-me fazer a ressalva: não é apenas ali naquele órgão de comunicação social que, diga-se de passagem, embora destinado à cambada mais jovem que por inerência não pensa (deverá ser essa a filosofia subjacente ao teor do referido jornal) é pertença e responsabilidade do Estado, logo deveria brindar-nos com o já proverbial e desaparecido em parte incerta serviço público (mas talvez a ideia seja mesmo essa: somos todos muito burros e precisamos que as noticiazinhas nos sejam servidas várias vezes e usando precisamente as mesmas palavras porque óssenão a malta não percebe e ópois chumba no 7º, 8º e 9º ano e a Milu vê ir por água abaixo as suas magníficas taxas de sucesso escolar - é isso!). Não, não é só na Antena 3 que o ouvinte é brindado com o bloco noticioso em versão playlist até cair de enjôo. Também a SIC Notícias e a RTP N (a TVI não consumo por isso não me pronuncio) são adeptas da clonagem informativa. O repórter dirige-se ao local do acontecimento (quando se dirige, mas este assunto ficará para outra posta). Recolhe som, imagem e, quiçá, se o precioso tempo o permitir e valores mais altos não se levantarem, alguns dados relevantes. Regressa à redacção o mais depressa possível e em todo o caso antes de se transformar numa abóbora. Monta uma única peça com o material de que dispõe. Uma só, uminha, que será passada no próprio dia no canal-mãe e no canal de notícias até que os seus mais fieis espectadores - mesmo os surdos - sejam capazes de a reproduzir vogal por vogal e consoante por consoante. E no dia seguinte, com um pouco de sorte, ainda temos direito à repetição da dita mas sem ser requentada - isso gastaria recursos preciosos à estação -, que é como quem diz: se a peça dizia "hoje" continua a ser "hoje" embora qualquer criança de quatro anos entenda que "hoje" passou a ser "ontem", mas, then, again, isso não interessa nada, não é? E se até os putos percebem, os adultos não precisam que lhes expliquem.
Devo ser um tipo mesmo pré-histórico mas quando (no tempo das cavernas) estudei jornalismo radiofónico o ancião que me dava formação e que só por acaso era uma referência no ensino deste meio em Portugal costumava dizer: "Peça editada é peça arquivada". Mas provavelmente é por eu ter estes conceitos ultrapassados que eles têm emprego, 13º e 14º mês e eu devo quase três anos de contribuições à segurança social (e ponho maiúsculas se me apetecer, nhanhanhanhanha).
2 comentários:
Manuel do Jornalismo,
escrevi hoje sobre precariedade no jornalismo aqui:
http://precariosinflexiveis.blogspot.com/2008/12/tribo-dos-jornalistas.html
abraço,
JP
Besta, não estás só nessa análise. Repetem vírgula por vírgula, mesmo já o acontecimento estando completamente alterado. Irrita-me também a falta de continuidade das notícias, em muitos casos. O Perdidos e Achados recuperou pessoas de há muitos anos, mas, na maioria dos casos, não sabemos o que aconteceu ao gajo que processou o Estado por negligência médica, nem do Zé da esquina que foi acusado de pedofilia e por aí fora. Isso só acontece numa minoria de casos, o resto vai para o tal arquivo e morre por ali.
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