terça-feira, 25 de novembro de 2008
O importante é parecer
Em Portugal, sê português. A partir de hoje, insulto e processo quem disser que sou jornalista. Eu sou um comunicólogo. Digam devagarinho e com respeito: co...mu...ni...có...lo...go!
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Conversas com um ET
ET- Ó português, porque te queixas tanto, se tens um emprego?
Português- Tenho um falso emprego.
ET- Luta mais. Todos sabemos que o positivismo e o trabalho árduo recompensam.
Português- Neste País não.
ET- Então e o mérito?
Português- Não conta. Conta mais a cor política e a cunha.
ET- Mesmo se fores mau?
Português- Sim.
ET- Há sempre os concursos públicos, que analisam a pessoa pelo perfil, pelo percurso e pelas competências.
Português- Não. São feitos expressamente para meter o amigo. Ou então para conferir legalidade a uma situação ilegal. Contrata-se, despede-se, contrata-se novamente.
ET- Mas isso não é em todo o lado, certamente. O Estado é pessoa idónea.
Português- É em todo o lado, principalmente no Estado.
ET- Ó português, isso quer dizer que estais entregues à sorte?
Português- Basicamente.
ET- Tenho uma sugestão.
Português- Sim?
ET- Extermínio e recomeço.
Português- Ah.
Português- Tenho um falso emprego.
ET- Luta mais. Todos sabemos que o positivismo e o trabalho árduo recompensam.
Português- Neste País não.
ET- Então e o mérito?
Português- Não conta. Conta mais a cor política e a cunha.
ET- Mesmo se fores mau?
Português- Sim.
ET- Há sempre os concursos públicos, que analisam a pessoa pelo perfil, pelo percurso e pelas competências.
Português- Não. São feitos expressamente para meter o amigo. Ou então para conferir legalidade a uma situação ilegal. Contrata-se, despede-se, contrata-se novamente.
ET- Mas isso não é em todo o lado, certamente. O Estado é pessoa idónea.
Português- É em todo o lado, principalmente no Estado.
ET- Ó português, isso quer dizer que estais entregues à sorte?
Português- Basicamente.
ET- Tenho uma sugestão.
Português- Sim?
ET- Extermínio e recomeço.
Português- Ah.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Estratégias de marketing
Ou como arruinar um jornal centenário:
- Manter o clima de ameaça ao rubro.
- Pagar salários diferentes a editores a desempenhar a mesma função na mesma secção.
- Cortar privilégios
- Trocar chefes de umas secções para as outras, ao sabor das necessidades do momento.
- Passar colaboradores a editores, ao preço da chuva.
- Lançar boatos, de quando em vez, a anunciar despedimentos de centenas de pessoas, a fim de manter o terror e o pânico.
- Não conversar, exigir e desrespeitar gente com anos de trabalho.
- Não conversar, exigir e desrespeitar novatos.
-Não conversar, exigir e desrespeitar colaboradores, correspondentes, gente dos quadros, vai tudo à frente.
- Dar abraços compreensivos pela frente e fazer a cama por trás.
- Alterar as políticas editoriais para algo indefinido, uma qualquer amálgama de ordens hierárquicas, sem fio condutor e sem estratégia compreensível.
- Fomentar a maledicência e o mau ambiente.
No fim de tudo, criticar o mau ambiente, o desânimo, a falta de estratégia, as hipocrisias e as hierarquizações e as insubordinações da equipa.
Tipo efeito boomerang.
- Manter o clima de ameaça ao rubro.
- Pagar salários diferentes a editores a desempenhar a mesma função na mesma secção.
- Cortar privilégios
- Trocar chefes de umas secções para as outras, ao sabor das necessidades do momento.
- Passar colaboradores a editores, ao preço da chuva.
- Lançar boatos, de quando em vez, a anunciar despedimentos de centenas de pessoas, a fim de manter o terror e o pânico.
- Não conversar, exigir e desrespeitar gente com anos de trabalho.
- Não conversar, exigir e desrespeitar novatos.
-Não conversar, exigir e desrespeitar colaboradores, correspondentes, gente dos quadros, vai tudo à frente.
- Dar abraços compreensivos pela frente e fazer a cama por trás.
- Alterar as políticas editoriais para algo indefinido, uma qualquer amálgama de ordens hierárquicas, sem fio condutor e sem estratégia compreensível.
- Fomentar a maledicência e o mau ambiente.
No fim de tudo, criticar o mau ambiente, o desânimo, a falta de estratégia, as hipocrisias e as hierarquizações e as insubordinações da equipa.
Tipo efeito boomerang.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Parabéns
pela coragem. A todos os intervenientes da reportagem da SIC "O Contrato". Sobretudo ao João Pacheco, dos Precários Inflexíveis. Por ser uma voz sem medo. Por ter sido espectacularmente assertivo no discurso, quando recebeu o prémio. Por ser dos poucos que ousam dizer a verdade, neste universo podre em que todos fingem estar tudo bem, com medo de perder o emprego. Num universo onde, inúmeras vezes, os pretensos patrões nos fazem lembrar que jornalista que denunciaa sua precariedade é jornalista queimado na praça: jornalista que ganha dois ou três tostões, tem de sentir-se agradecido e ser subserviente, pois há muitos que querem trabalhar nessas condições.
O João tem razão. No início até era giro. Era o fio de um sonho. Anos depois, com talento ou sem ele, vemo-nos todos com a credibilidade obliterada. Até o brio que nos alimentou durante anos, começa a perder sentido. Na sociedade, as pessoas a partir das quais fazemos nascer notícias e reportagens, até nos respeitam, conhecem e sabem dos nossos méritos. Os colegas também. Recebemos prémios, cartas de agradecimento, envolvemo-nos em polémicas pelas cachas escritas. Fazemos o mundo à volta mexer. Mas who cares?. Para os recursos humanos, somos máquinas. Para os patrões, números. Para os editores, moços de recados. A mais recente "moda" que isola cada vez mais o profissional é o de acreditar sempre em quem nos desmente e publicar todo e qualquer direito de resposta, difamatório ou não. Não adianta implorar com garantias de verdade ou até provas físicas. O importante é deixar os "tubarões"sossegados. Aos poucos, o jornalista deixa de querer escrever temas fortes. Um dia, ficar-nos- emos todos pela inaguração da exposição do filho do patrão. Ou pela cor fabulosa com que a Lili Caneças pintou a bardaneja.
O João tem razão. No início até era giro. Era o fio de um sonho. Anos depois, com talento ou sem ele, vemo-nos todos com a credibilidade obliterada. Até o brio que nos alimentou durante anos, começa a perder sentido. Na sociedade, as pessoas a partir das quais fazemos nascer notícias e reportagens, até nos respeitam, conhecem e sabem dos nossos méritos. Os colegas também. Recebemos prémios, cartas de agradecimento, envolvemo-nos em polémicas pelas cachas escritas. Fazemos o mundo à volta mexer. Mas who cares?. Para os recursos humanos, somos máquinas. Para os patrões, números. Para os editores, moços de recados. A mais recente "moda" que isola cada vez mais o profissional é o de acreditar sempre em quem nos desmente e publicar todo e qualquer direito de resposta, difamatório ou não. Não adianta implorar com garantias de verdade ou até provas físicas. O importante é deixar os "tubarões"sossegados. Aos poucos, o jornalista deixa de querer escrever temas fortes. Um dia, ficar-nos- emos todos pela inaguração da exposição do filho do patrão. Ou pela cor fabulosa com que a Lili Caneças pintou a bardaneja.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Assim como assim
Um assalto aparatoso, capuzes, armas. O jornalista corre para o local recolhe depoimentos do assaltado, das testemunhas, das pedras do chão, liga à polícia, quer uma reacção, um qualquer discurso directo oficial que abrilhante a coisa com os pozinhos mágicos da aldrabice, faz um texto extenso, à espera de um espaço digno para a peça... e não há espaço. Mete-se uma breve.
Um assalto aparatoso, capuzes, armas. O jornalista, desta vez, não vai na cantiga. Dá uma telefonadela para aqui, outra para o outro lado, faz um texto com o que tem e... está mal feito, que peça é esta, devias ter ido ao local, queremos discurso directo para fazer uma abertura de secção. Que porcaria de jornalista, dizem os editores, para que se ouça e corra toda a redacção até ao gabinete dos crânios.
Os critérios de importância são os da vontade do momento, que novidade. Os factos, esses, nem têm relevância nenhuma para o caso. Se a notícia merece mil caracteres ou três mil. Para o editor, em ambas as situações o jornalista é que não soube perceber a magnitude da ocorrência. No primeiro caso, por excesso. No segundo, por defeito.
Um assalto aparatoso, capuzes, armas. O jornalista, desta vez, não vai na cantiga. Dá uma telefonadela para aqui, outra para o outro lado, faz um texto com o que tem e... está mal feito, que peça é esta, devias ter ido ao local, queremos discurso directo para fazer uma abertura de secção. Que porcaria de jornalista, dizem os editores, para que se ouça e corra toda a redacção até ao gabinete dos crânios.
Os critérios de importância são os da vontade do momento, que novidade. Os factos, esses, nem têm relevância nenhuma para o caso. Se a notícia merece mil caracteres ou três mil. Para o editor, em ambas as situações o jornalista é que não soube perceber a magnitude da ocorrência. No primeiro caso, por excesso. No segundo, por defeito.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Lição de jornalismo
"Desculpa lá, mas no meu curso ensinaram-me que o jornalista não deve ter opinião" - interrompeu a I. Terá uns vinte anos de idade e um feitiozinho que lhe irá trazer bastantes dissabores se porventura vier a entrar numa redacção. Ou em qualquer local de trabalho. Até sei em que curso ela anda e francamente custa-me a acreditar que alguém lhe possa ter ensinado aquilo (a não ser que lhe tenham querido refrear os ânimos de menina que tudo sabe, fazendo uma espécie de bluff, tipo "pode ser que pegue e que por uns tempos ela aprenda a estar calada... quem sabe desta forma consiga manter, pelo menos, um estágio...").
Há já umas largas décadas que se abandonou, nas universidades, aquela teoria do jornalista "isento". Nem sei se alguma vez, desde que o jornalismo é "ensinado" ao nível da licenciatura, foi transmitida aos estudantes essa filosofia (pelo menos de forma dominante). Ninguém com dois dedos de testa acredita nisso. A busca da verdade, da transmissão dos factos sem os falsear, o estímulo para que se procure sempre apresentar o maior número possível de pontos de vista para uma determinada questão não significa de forma alguma que se pretenda que o jornalista abdique das suas ideias, opiniões e posições políticas. Antes pelo contrário! De outro modo, qual teria sido o papel dos nossos antecessores no combate à ditadura? E de todos os que, noutros países, se batem, às vezes pagando com a própria vida, pelo direito e pelo dever de informar?
Mas, then, again, talvez nos últimos 15/20 anos, o paradigma se tenha alterado novamente. E se queira adequar os futuros profissionais àquilo que os empregadores (aparentemente) procuram: jovens com pouca ou nenhuma capacidade crítica, sem opinião, incapazes de tomar uma atitude, nem sequer quando o que está em causa lhes diz directamente respeito. Uma geração de funcionários submissos e prontos a aceitar condições laborais e de remuneração que não o são, que não o eram há vinte anos. Condições que lembram, aliás, tempos anteriores à revolução industrial. Pronto, vá lá, contemporâneos desta. Acéfalos trabalhadores em cadeia cujo grau de especialização consiste em saber esticar ou encolher textos de forma a fazê-los caber em páginas pré-formatadas, com um conteúdo previamente encomendado e decidido em reunião de editores, quando não no departamento comercial da empresa. Sim, da empresa, pois trata-se tão somente de vender jornais, revistas ou quejandos como se poderiam vender chouriços ou salsichas. O melhor empregado é mestre na arte do enchido. Sabe como ninguém embalá-lo dentro de um de três celofanes coloridos e mui apreciados pelo patrão: Rosa-sexo, vermelho-sangue, amarelão-escândalo. Tudo o resto "não interessa nada". O espírito de missão, a função de denúncia são espécies em vias de extinção. Pesquisa? Investigação? Esquece lá isso, faz por telefone. E não demores muito que ainda tens de fazer vinte e três chamadas para saber o que a Babá pensa do novo visual da Xuxú (meia página). E ir à festa de lançamento do livro infantil da Pipi para adormecer criancinhas de tédio (página inteira). E dar a conhecer aos leitores a linha de cosméticos da Lelé, a hipercolunável cunhada em terceiro grau do administrador. Na compra de um frasquinho de 10 ml de perfume de azeda a 69 aéreos, está a contribuir com um cêntimo para a obra de solidariedade social da Totó, que por acaso até é prima da mulher do director comercial (página e meia).
Tens razão, I. O jornalista não deve ter opinião. Nem tomates. Nem coluna vertebral. Pensando bem, talvez devesse ser substituído por um robô...
Há já umas largas décadas que se abandonou, nas universidades, aquela teoria do jornalista "isento". Nem sei se alguma vez, desde que o jornalismo é "ensinado" ao nível da licenciatura, foi transmitida aos estudantes essa filosofia (pelo menos de forma dominante). Ninguém com dois dedos de testa acredita nisso. A busca da verdade, da transmissão dos factos sem os falsear, o estímulo para que se procure sempre apresentar o maior número possível de pontos de vista para uma determinada questão não significa de forma alguma que se pretenda que o jornalista abdique das suas ideias, opiniões e posições políticas. Antes pelo contrário! De outro modo, qual teria sido o papel dos nossos antecessores no combate à ditadura? E de todos os que, noutros países, se batem, às vezes pagando com a própria vida, pelo direito e pelo dever de informar?
Mas, then, again, talvez nos últimos 15/20 anos, o paradigma se tenha alterado novamente. E se queira adequar os futuros profissionais àquilo que os empregadores (aparentemente) procuram: jovens com pouca ou nenhuma capacidade crítica, sem opinião, incapazes de tomar uma atitude, nem sequer quando o que está em causa lhes diz directamente respeito. Uma geração de funcionários submissos e prontos a aceitar condições laborais e de remuneração que não o são, que não o eram há vinte anos. Condições que lembram, aliás, tempos anteriores à revolução industrial. Pronto, vá lá, contemporâneos desta. Acéfalos trabalhadores em cadeia cujo grau de especialização consiste em saber esticar ou encolher textos de forma a fazê-los caber em páginas pré-formatadas, com um conteúdo previamente encomendado e decidido em reunião de editores, quando não no departamento comercial da empresa. Sim, da empresa, pois trata-se tão somente de vender jornais, revistas ou quejandos como se poderiam vender chouriços ou salsichas. O melhor empregado é mestre na arte do enchido. Sabe como ninguém embalá-lo dentro de um de três celofanes coloridos e mui apreciados pelo patrão: Rosa-sexo, vermelho-sangue, amarelão-escândalo. Tudo o resto "não interessa nada". O espírito de missão, a função de denúncia são espécies em vias de extinção. Pesquisa? Investigação? Esquece lá isso, faz por telefone. E não demores muito que ainda tens de fazer vinte e três chamadas para saber o que a Babá pensa do novo visual da Xuxú (meia página). E ir à festa de lançamento do livro infantil da Pipi para adormecer criancinhas de tédio (página inteira). E dar a conhecer aos leitores a linha de cosméticos da Lelé, a hipercolunável cunhada em terceiro grau do administrador. Na compra de um frasquinho de 10 ml de perfume de azeda a 69 aéreos, está a contribuir com um cêntimo para a obra de solidariedade social da Totó, que por acaso até é prima da mulher do director comercial (página e meia).
Tens razão, I. O jornalista não deve ter opinião. Nem tomates. Nem coluna vertebral. Pensando bem, talvez devesse ser substituído por um robô...
Morreu a Rute Cruz
Quando previa um futuro brilhante e fantástico. Oxalá tenha tido, pelo menos, uma vida nesse tom.
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